“Cheguei num certo momento a sentir o maior ‘desencanto’, junto com grande desânimo da vida durante grande parte do período da ditadura. Nas aulas do museu [MAM Rio] comecei a abolir metodologicamente qualquer coisa ou material para os alunos que não fosse a própria superfície terrestre. Me veio um sentimento de maior harmonia com o planeta. Passei a levar meus alunos a lugares distantes do Centro do Rio e da Zona Oeste, como a lagoa de Marapendi, que continuava totalmente abandonada desde o tempo em que índios guaranis viveram ali. Senti que ali podíamos trabalhar com mais ‘liberdade’… Tenho um amigo, um fotógrafo, Thomas Lewinsohn, que hoje é cientista em biologia. Ele me acompanhava para registrar todas as ações e propostas que eu concebia ao longo das aulas.
A maioria dos registros foi feita em transparências [slides]. Isso tudo se tornou parte da mostra no próprio MAM Rio, e denominei de Circumambulatio […]”. Comentário de Anna Bella Geiger em entrevista a Hans Ulrich Obrist. (Entrevistas brasileiras, vol. 1. Rio de Janeiro: Cobogó, 2018).
“Todo o processo com registros fotográficos envolvidos em Circumambulatio se revela como um work in progress, da arte do corpo e da terra, à procura do arquétipo do self (centro), isto é, insistindo na necessária ligação entre o interior e o exterior do ser humano”. (Navas, Adolfo Montejo. Fotografia além da fotografia — notas de montagem. Em: Anna Bella Geiger — fotografia além da fotografia, 1972–2008. Catálogo de exposição no Paço Imperial, Rio de Janeiro, 2008).