Filmado por Jom Tob Azulay no Rio de Janeiro. Anna Bella Geiger se movimenta por lances de escadas. Em entrevista a Hans Ulrich Obrist (2018), a artista declara: “Em Passagens I, escolhi três escadarias aqui do Rio de Janeiro, a primeira dentro de um edifício art nouveau que ia ser demolido. Subo aquelas escadas três vezes ‘imitando’ o sistema do looping. Isto é, eu subo de fato três vezes repetidas a mesma escadaria. A segunda é uma escadaria que fica no bairro do Catete, na rua Santo Amaro, n. 35. Essa escadaria (até os dias de hoje) faz a ligação de moradores das casas lá do alto e que existe há mais de cem anos […]. Eu morei numa casa dessas contígua à escadaria. Ela tem mais de 160 degraus, que subo naquele vídeo. A terceira fica no prédio do Instituto Benjamin Constant, sede do instituto/escola dos cegos, fica na av. Pasteur, na Praia Vermelha. Escolhi pelo absurdo de ser este o prédio que acolhe os cegos. […] O som gravado neste vídeo, Passagens I, capta os três ambientes. No primeiro, o som do salto do sapato era o que me interessava. Inclusive porque as três escaladas de fato acontecem. Na escadaria da rua Santo Amaro se ouve uma criança gritar algumas palavras quando eu passo pela casa dela na favela. Na escadaria do Instituto ouve-se o tráfego da rua”.
“Em Passagens, Anna Bella Geiger sobe e desce lentamente escadas em um ritmo constante, como em um rito de passagem”. (Parente, André. Cinema de vanguarda, cinema experimental e cinema do dispositivo. Em Filmes de artista: Brasil, 1965–80. Catálogo de exposição no Oi Futuro, Rio de Janeiro, 2007. “É constitutivo o conflito espaço-movimento que, em alguns trabalhos da artista (fotografias e vídeos das Passagens, por exemplo), ficará evidente”. (Navas, Adolfo Montejo. Fotografia além da fotografia: notas de montagem. Em Anna Bella Geiger — fotografia além da fotografia, 1972-2008. Catálogo de exposição no Paço Imperial, Rio de Janeiro, 2008).