Anna Bella Geiger

Brasileira, nascida em 1933, radicada no Rio de Janeiro

Bio

© Diana Tamane

Esteve entre os primeiros artistas brasileiros a experimentar o vídeo como forma de arte. Suas primeiras obras, abstrações puras em pintura e gravura, lançaram sua carreira no início dos anos 1950. Seus estudos e encontros com artistas na cidade de Nova York, durante uma longa estadia entre 1953-54 e, posteriormente, em visitas frequentes, ampliaram seu interesse por opções progressistas em temas e práticas artísticas. Para além de suas reconhecidas realizações abstratas, ela também é conhecida por trabalhos multimídia que contemplam a identidade brasileira – nacional, histórica, geográfica, social, política e pessoal. Em resposta às condições sociopolíticas, desencadeadas pelo golpe e pelo estabelecimento da ditadura militar (1964-1985),a abordagem de Geiger mudou nos anos 1960 – primeiro, em direção a uma figuração visceral, e depois, temporariamente, afastando-se totalmente da pintura.
No início dos anos 1970, Geiger explorou diversos meios para examinar como a identidade nacional é apropriada e reconstruída como propaganda para agendas políticas e econômicas. Geiger analisou como diferentes versões do passado e do presente refletem as comunidades indígenas e imigrantes, e como crenças e políticas impactam o futuro de uma terra vasta, eco-dinâmica, frágil e sagrada. Este tema continua sendo um fio condutor entre muitos artistas brasileiros e a legião de alunos de Geiger.
Em 1974, o cineasta Jom Tob Azulay a introduziu na produção de vídeos. Esse meio ofereceu-a uma nova maneira de analisar a interface entre história e memória. Colagem, fotografia, escultura em metal e cera, filme super-8, objetos encontrados, e obras com texto, livros de artista assim como instalações e performances (que ela chama de Ações), foram alguns dos meios que ela cultivou em seu arsenal artístico.Enquanto resistia de forma velada ao regime, não apenas criou seus quatro filhos, como também se destacou como artista prolífica e influente, ativista e professora de arte.

Seus vídeos em preto e branco da metade dos anos 1970 são tão inventivos quanto qualquer outro produzido naquele período no cenário artístico mundial.Seu vídeo mais conhecido dessa fase é Passagens I, de 1974 (restaurado e remasterizado pelo BFVPP). Ao longo de quase dez minutos, o espectador acompanha Geiger, passo a passo, enquanto ela sobe três escadarias em e ao redor de seu bairro.Uma câmera próxima a observa enquanto ela sobe, determinada, como se estivesse perdida ou talvez presa em alguma rotina enigmática. Ela parece medir, marcar ou contar o tempo, mas sua escalada não leva a lugar algum. No Brasil, muitos críticos de arte eram céticos quanto à possibilidade do vídeo ressoar como arte de fato. A estreia internacional de seus trabalhos na Videoarte Brasil 1975 revelou a poesia paciente de Geiger como algo tão universal quanto atemporal. 

Na década de 1980, a artista voltou à pintura, mas também continuou seus empreendimentos multimídia. Suas nomeações para cargos em museus e instituições acadêmicas continuaram a se expandir, especialmente na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e na Universidade de Columbia. Suas obras foram colecionadas e exibidas em todo o mundo, incluindo a XXXIX Bienal de Veneza, em 1980. Em 1983, ela recebeu uma bolsa da Fundação John Simon Guggenheim para pesquisa em cinema. Entre suas muitas distinções, destaca-se também a co-autoria, com Fernando Cocchiarale, de um estudo seminal: Abstracionismo geométrico e informal: A vanguarda brasileira nos anos cinquenta (Temas e Debates), de 1987. Esta coletânea de ensaios e entrevistas, produzida em 1987 e reeditada em 2004, permanece uma referência influente. 

No século XXI, obras antigas e atuais de Geiger continuam a causar impacto.
Suas conquistas foram destacadas em exposições notáveis como Radical Women: Latin American Art, 1960-1985 e em uma grande retrospectiva, Anna Bella Geiger: Brasil Nativo/Brasil Estrangeiro (Países Baixos, Bélgica, Brasil). Entre seus projetos em andamento está Circa, 2006-2019, uma instalação multimídia que se transforma a cada nova versão. As edições iniciais apresentavam um modelo de pirâmide em ruínas, dentro de um sítio arqueológico arenoso. Projeções adjacentes adicionavam reflexões sobre a manipulação de datas e narrativas que emergem de descobertas arqueológicas. Até hoje, a artista adaptou a obra para cada espaço expositivo, incorporando areia local e ajustando o foco para iluminar como essas noções refletem questões nas histórias locais e situações globais contemporâneas. Circa reflete sua engenhosidade em explorar significados, materiais, oportunidade, atemporalidade e o espírito do tempo. Sempre provocadora, Geiger questiona como monumentos e artefatos do passado são utilizados para “atestar” conquistas, culturas e identidades coletivas e como essa circunstância informa a história e a memória. Inúmeras exposições brasileiras e internacionais afirmam a relevância contínua dos temas e da experimentação de Geiger. Ela permanece tão dedicada ao ateliê quanto a oferecer cursos, palestras, entrevistas e comentários. Seu impacto continua se expandindo entre aqueles que estudam sua obra e os que já estudaram ou ainda estudam com essa incansável pioneira.

Filmografia

BFVPP Ensaios

Marisa Flórido César, 2020

Anna Bella Geiger certa vez definiu seu processo artístico “como um fluxo nas interfronteiras, coreografias diversas se deslocando de um território a outro”.1 Mas poderíamos dizer que, nesse fluxo, emergem inúmeros territórios em embate com as diversas fronteiras que os controlam.

Ao escrever sobre uma de suas instalações — uma topografia arqueológica que ela intitulou Circa (2006) —, Anna Bella Geiger observou uma contradição que é central para a demarcação científica de tempo, lugar e história.

Conversa

FILME  :  Anna Bella Geiger
By Vivian Ostrovsky with Ruti Gadish, 2019.

Ostrovsky é uma cineasta experimental, conhecida por sua série contínua de retratos de mulheres artistas, cineastas, escritoras e coreógrafas progressistas. Gadish, colaboradora frequente, é cineasta e editor de filmes.

Sinopse
As imagens de uma série de entrevistas em estúdio do BFVPP são o centro desta biografia experimental.

Recursos

Para obter detalhes biográficos de Anna Bella Geiger, consulte:

Para obter uma visão geral dos estudos e do ensino da Anna Bella Geiger, visite

Para obter uma visão geral dos estudos e do ensino da ABG, visite :

Anna Bella Geiger : Native Brazil/Alien Brazil

Exhibition catalog for touring retrospective, 2021-2023. Curator, Tomas Toledo. Publishers – Museu de Arte de Sao Paulo Assis Chateaubriand (MASP), Municipal Museum of Contemporary Art, Ghent (SMAK).

Encounters in Video Art in Latin America
Editors, Elena Shtromberg, Glenn Phillips

Volume of essays by various authors. Publisher – Getty Publications, 2023

Hans Ulrich Obrist: entrevistas brasileiras. Vol. I

Interviews with artists and intellectuals born before 1959, consider the impact of Brasilia and the emergence of Brazilan modernism. Publisher – Cobogo Editoria, 2019

Radical Women: Latin American Art 1960-1985,

Radical Women: Latin American Art 1960-1985
Curators, Cecilia Fajardo-Hill, Andrea Giunta

Exhibition catalog for touring exhibition, 2017 Publisher – Hammer Museum

Radical Women: Latin American Art 1960-1985,

Anna Bella Geiger Physical and Human Geography
Curator, Estrella de Diego

Exhibition catalog for touring exhibition, 2017 Publisher – La Casa Encendida.

Radical Women: Latin American Art 1960-1985,

Filmes de Artista Brasil 1965-80
Curator, Fernando Cocchiarale

Exhibition catalog, Oi Futuro, 2008 Publisher – Contra Capa

Radical Women: Latin American Art 1960-1985,

Inverted Utopias: Avant-Garde Art in Latin America
Curators Mari Carmen Ramirez, Hector Olea

Exhibition catalog, Houston Museum of Fine Arts, 2004 Publisher – Yale University Press

As obras de Geiger importantes coleçoes

As obras de Geiger em todos os meios de comunicação fazem parte de importantes colecções institucionais, incluindo o Centre Pompidou (Paris), o Museum of Modern Art (Nova Iorque), o Getty Museum (Los Angeles), o Victoria and Albert Museum (Londres) e o Reina Sofia (Madrid)